quarta-feira, 8 de outubro de 2014

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83ª Entrevista do FLAMES: Ana Casaca (escritora portuguesa)



Ana Casaca
  
Tem 39 anos e é natural de Lisboa. Licenciou-se em Direito, mas sempre soube que era na escrita que residia a sua verdadeira vocação. Troca as leis pelas letras e, em 2002, inicia-se no guionismo pela mão de Manuel Arouca, que a convida a integrar a equipa de escrita da telenovela Filha do Mar (TVI, 2002). Participou na escrita de Baía das Mulheres (TVI, 2005), Tu e Eu (TVI, 2007), Podia Acabar o Mundo (SIC, 2008), Rosa Fogo (SIC, 2011) e Bem-vindos a Beirais (RTP, 2013-2014). Adaptou, com Tomás Múrias, o guião para a série O Regresso a Sizalinda (RTP, 2006). Neste momento, integra a equipa de argumentistas da sequela de Jardins Proibidos (TVI, 2014). É autora dos romances "A Vontade de Regresso" (2002) e "Todas as Palavras de Amor" (2013).
Editou este ano o seu terceiro romance, "Viagem ao fim do Coração" e é precisamente sobre esta obra que o FLAMES esteve à conversa com a autora.

Filme favorito: "Cinema Paradiso" (vejam o post do FLAMES sobre este filme aqui)
Livro favorito: De sempre é impossível nomear. Sempre que me fazem essa pergunta sofro um bloqueio e tenho sempre medo de deixar de fora muitos livros, mas dos últimos dois anos (e deixando de fora duas mãos cheias) vá: "Mil Sóis Resplandecentes", de Khaled Hosseini.
Anime favorito: Não tenho, sou do tempo do Tom Swayer e do Dartacão J
Manga favorito: Manga para mim é e será sempre um fruto J
Entretenimento favorito: "Conan O’Brien" (vejam o post do FLAMES sobre este programa aqui)
Série de televisão favorita: "Weeds"


A sua inspiração para “Viagem ao fim do coração” partiu de um caso da vida real que lhe era muito próximo. Quais são, normalmente, as suas fontes de inspiração quando escreve?
Parto sempre de qualquer situação, ou pessoa que me esteja próxima e que me tenha inspirado. Acho que se formos permeáveis aos outros e a tudo aquilo que nos rodeia, se estivermos sempre de olhos e coração abertos e nos deixarmos envolver, não podemos deixar de encontrar fontes permanentes de encantamento, desencanto, fragilidades, enfim, tudo aquilo que, regra geral dita aquilo que escrevo. Gosto de escrever sobre emoções e pessoas de carne e osso, talvez por isso tantas pessoas digam que se identificam com aquilo que escrevo.
 
 
Para a Ana escrever este livro foi mais fácil, em comparação com as suas obras anteriores, por abordar um tema com o qual já lidou de perto na sua vida através de experiências de pessoas que lhe são próximas, ou pelo contrário todas as emoções ligadas a esta temática dificultaram-lhe a tarefa?
Foi a história mais sincera e visceral que já escrevi e, nesse sentido, mais fácil, pois pus tudo de mim em cada palavra, sem reservas. Mas, ao mesmo tempo e por ter sido inspirada numa amiga que perdi, senti um pouco a pressão de não lhe estar a fazer jus, ou de não ter conseguido dizer tudo aquilo que queria dizer. Mas no final foi libertador, quase catártico. Foi uma experiência muito intensa e solitária.
 
 
Cada capítulo do livro apresenta o ponto de vista de uma determinada personagem, narrado na primeira pessoa. Contudo, os capítulos do Tiago são uma excepção pois estão escritos na terceira pessoa. Há algum motivo em especial para esta opção?
Acho muito giro perguntares-me isso, porque eu sempre vi o Tiago na terceira pessoa, como se, de alguma forma, tivesse de trata-lo assim, diferenciando-o dos restantes personagens, dando-lhe uma certa solenidade e distância. Foi como se precisasse de trata-lo dessa forma, pois não sabia tudo sobre ele. Foi importante ter alguém que não conhecesse por dentro, daí ter-lhe dado uma espécie de distância de segurança.
 
 
Como tem sido a reacção dos seus leitores a esta história tão intensa? Nota alguma diferença relativamente às reacções aos seus anteriores livros?
As reacções têm superado todas as minhas expectativas e têm sido extraordinariamente emotivas, aqui sem dúvida, mais do que nos meus livros anteriores. Pessoas que se ligam aos personagens pelos vários caminhos que eles representam, pessoas que se identificam e agradecem terem-se sentido menos isoladas nas suas vidas e acompanhadas na perspectiva que julgavam apenas sua. Enfim, eu própria me tenho comovido imenso com as reacções que esta Viagem ao Fim do Coração tem desencadeado.
 
 
A sua experiência como argumentista para novelas ajuda-a a escrever as suas histórias ou são estas que influenciam o produto final dos guiões que escreve?
São exercícios completamente diferentes e que exigem uma grande ginástica para passar de um modo ao outro. O guionismo exige coloquialidade, exige que nos dispamos, muitas vezes das camadas todas que temos, para chegarmos àquele tom menos pretensioso. Temos de apagar-nos um pouco em prol do guião e isso, principalmente para os vaidosos e palavrosos, não é fácil. Ao passo que um livro não tem tanto esse espartilho e podemos ser um mais nós. Tento sempre não deixar que um influencie o outro, mas confesso que nem sempre é fácil e que depois de muitos meses a escrever uma novela, precise de uma espécie de limpeza mental antes de me atirar a outro tipo de história.
 
 
Na sua opinião, qual é a função principal de um bom livro?
Se um livro consegue preencher a função de nos encher de vida, mesmo que estejamos dentro de um autocarro apinhado de pessoas a caminho do trabalho, numa segunda-feira de manhã, será certamente um bom livro. Um bom livro terá de ter sempre o condão de nos fazer sentir menos sós.


Muito obrigada Ana pela simpatia e disponibilidade!

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